Menino no corpo de menina: mãe fala sobre filho transgênero

Olá Mamães,

no Blog Papo de Mãe de hoje vai falar sobre o TRANSGÊNERO e como é importante o acolhimento e aceitação da família. 

Fonte: http://revistacrescer.globo.com/Criancas/Comportamento/noticia/2016/08/o-menino-que-ela-sempre-quis-ser.html?utm_source=facebook&utm_medium=social&utm_campaign=post

Foto(revista crescer, divulgação)

Conheça a história de Ryland Whittington, 8 anos, que nasceu menina mas sempre sentiu que era menino. Em um livro recém-lançado nos Estados Unidos, a mãe revela a descoberta do transtorno de identidade de gênero da criança e mostra como, entre incertezas e angústias, a família finalmente permitiu que ela pudesse ser ele

Por Maria Clara Vieira - atualizada em 03/10/2016 14h32

O que você faria se a sua filha pequena dissesse que, por dentro, se sente como um menino? E se ela tentasse fazer xixi de pé, só aceitasse vestir roupas masculinas e quisesse cortar o cabelo? A americana Hillary Whittington, mãe de Ryland, 8 anos, passou por tudo isso desde o segundo ano de vida da criança. Dividida entre o medo e a vontade de ajudar a menina, ela pesquisou o assunto durante anos, consultou médicos e especialistas até finalmente se convencer: Ryland tem transtorno de identidade de gênero.

Isso acontece, por exemplo, quando a pessoa nasce com o corpo feminino, mas acredita que deveria ter uma constituição física masculina – e vice-versa. Vale ressaltar que a situação não tem a ver com orientação sexual. Os transgêneros simplesmente não conseguem se sentir confortáveis na própria pele e tampouco se adaptam às vestimentas, às características e aos papéis sociais comumente associados ao seu gênero original.
Ryland nasceu menina, mas, tão logo aprendeu a falar, começou a externalizar o seu eu interior. Desde os 2 anos de vida, ela se recusava a trajar vestidos e peças femininas, pedia para usar cueca em vez de calcinha e desenhava seu autorretrato como um garoto – tudo isso, claro, entre muitas brigas e lágrimas inevitáveis, tanto dos pais como da criança. A gota d’água para a mãe foi quando a filha perguntou: “Eu só poderei cortar o meu cabelo quando a minha família morrer?”.
Hillary percebeu a gravidade da situação e respondeu que não. Se um corte de cabelo faria a criança feliz, então ela não precisaria esperar mais. A partir do dia em que as longas madeixas loiras de Ryland foram ao chão, teve início o seu processo de transição.
Os pais escreveram uma carta relatando a situação e enviaram aos familiares, amigos e conhecidos. No texto, pediam compreensão, explicavam o que é o transtorno e solicitavam que, a partir de então, todos trocassem os pronomes femininos pelos masculinos quando se referissem a Ryland, passando a chamar por “ele” e não mais “ela”.
Dali em diante, a criança finalmente teve permissão da família para vestir as roupas que quisesse e passou a integrar os times esportivos masculinos da escola. O processo foi registrado em fotos e vídeo. Um filme publicado pela mãe no YouTube viralizou, atingindo quase 8 milhões de visualizações. Recentemente, Hillary, que também é mãe de Brynley, 4 anos, escreveu um livro (Raising Ryland, Ed. William Morrow, US$ 11,93 o eBook na Amazon, sem previsão de tradução para o português). Lá, ela conta com detalhes tudo o que passou até a filha se tornar filho. Confira a entrevista que Hillary deu à CRESCER.
O primeiro grande desafio que você encarou como mãe não foi o transtorno de identidade de gênero, e, sim, a descoberta da surdez de Ryland. Que conselho daria às famílias que recebem o diagnóstico de um filho especial?
Lamentei muito quando soube que Ryland não podia ouvir. Acho que o processo de luto é natural quando descobrimos que o filho terá de enfrentar esse tipo de obstáculo na vida. Mesmo assim, é importante deixar de lado a dor e a tristeza para focar no auxílio à criança. Os pais precisam se munir de todo o conhecimento e informação que for possível. A educação é uma ferramenta poderosa nessa travessia. É lógico que passei muitas noites em claro, preocupada. Mas também me esforcei bastante para oferecer a Ryland os recursos necessários para alcançar uma vida equilibrada e feliz. Hoje, ele usa um aparelho que permite que escute normalmente.
Quando Ryland começou a se recusar a vestir roupas femininas? Como você notou que se tratava de  algo maior do que birra?
Aos 2 anos de idade, quando começou a usar o aparelho auditivo e aprendeu a falar, Ryland passou a ter aversão a vestidos e peças de meninas. Naquela época, eu pensava que o motivo era o desconforto que alguns tecidos causavam. Continuei colocando roupas delicadas e tipicamente femininas nele, mas, conforme o tempo passava, seu descontentamento só crescia. Eu abria exceção para que, em casa, ele pudesse usar o que chamávamos de “roupas de brincar”, que eram trajes neutros. Mas, por meio de pequenos subornos, eu conseguia convencê-lo a usar o que eu escolhia quando saíamos de casa (embora eu não me orgulhe de ter feito isso). Eu sempre discutia minha preocupação com amigas próximas. Elas me ouviam, mas não compreendiam que era possível ter uma criança transgênera. Somente após anos de negociação, insistência e persistência, Ryland me fez perceber que tudo aquilo não era birra – havia tristeza e uma dor profunda nas ações dele.

Muitos dos episódios mais turbulentos com Ryland (por exemplo, flagrá-lo algumas vezes tentando fazer xixi de pé, como um menino) aconteceram durante a gestação de sua segunda bebê. Como administrou as emoções nesse período?
O transtorno de gênero do meu filho se intensificou perto de seu aniversário de 4 anos, durante minha segunda gravidez. Lembro de ter me sentido assustada e sobrecarregada. A gestação era de risco e tive de ficar de cama. Precisei contar com ajuda dos familiares e amigos para cuidar de Ryland. Isso acabou me dando tempo para repousar e pesquisar tudo o que pude sobre crianças transgêneras. Estava tão obstinada em ajudar o meu filho que não tinha tempo para me chatear ou sentir pena de nós mesmos. O meu conselho aos pais que se encontram na mesma situação é deixar claro para seus filhos que vocês os amam incondicionalmente.
Após compreender que Ryland é uma criança transgênera, como você se sentiu?
Sempre luto contra o medo quando o assunto é Ryland. Eu me preocupo que ele possa sofrer bullying ou ser ridicularizado quando os amigos souberem de sua história. Não posso controlar os pensamentos e as ações dos outros, mas estaria mentindo se dissesse que não penso no futuro do meu filho. Quero que tenha uma vida feliz, produtiva e saudável. Eu me sinto triste por outras crianças e adultos transgêneros: pesquisas mostram que 41% deles tentam se matar. Muitos sofrem abusos, ficam desempregados, moram nas ruas, têm depressão e vivenciam agressões diárias. Vejo sempre notícias de pessoas trans que são assassinadas. Falta empatia. Tenho esperança de que um dia haverá políticas públicas para ajudar os transgêneros e suas famílias.
Como Ryland está atualmente? 
É um típico menino de 8 anos: toca bateria, ama beisebol e brinca com os amigos. Ele tenta comer doces escondido e briga com a irmã. As professoras dizem que ele é um aluno carinhoso, estudioso e compreensivo – e isso me deixa feliz. Percebo que o meu filho é curioso, inteligente, tem autoconfiança e é muito divertido. Tenho certeza de que tomamos a decisão certa ao permitir que ele fizesse a transição para o gênero masculino.

Você notou algum tipo de preconceito das pessoas em decorrência da transição?
Tivemos poucos incidentes com familiares e amigos que não aceitaram nossa decisão de apoiar Ryland a viver como um menino. Foi preciso cortar relações com certas pessoas. Ainda há muitos que não compreendem os transgêneros. Algumas crenças costumam contribuir para isso.
O nome dele têm causado problemas?
Tivemos sorte, porque o nome Ryland é neutro e costuma ser usado para ambos os gêneros. Por isso, não precisamos mudá-lo. Uma vez, antes de fazer a transição, Ryland quis se vestir de Homem de Ferro para o Halloween. E, por coincidência, no meio da brincadeira de pedir doces na vizinhança, acabou conhecendo outro Homem de Ferro, um menino, com o mesmo homem que ele!
Qual é a maior lição que Ryland ensinou para vocês até hoje?
O meu filho me ensinou que as crianças são mais inteligentes do que imaginamos. Ele também me mostrou a diferença entre identidade de gênero e orientação sexual – antes eu pensava que eram a mesma coisa. Com Ryland, aprendi a amar incondicionalmente e a ter empatia pelas outras pessoas. É da natureza humana fazer julgamentos, mas criar o meu filho revelou que nunca compreendemos exatamente a dor alheia a menos que estejamos sob a pele do outro. Por fim, ele me encorajou a defender o que é certo, ainda que fazer o certo nem sempre seja fácil. O meu filho me fez ser quem sou hoje. Eu o amo por isso.

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Um beijo a todos e até mais um Papo De Mãe!

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